sexta-feira, 15 de março de 2013

Uniforme no parquinho


Todo dia de manhã, saindo do condomínio para comprar meu cigarro, paro na garagem para dar bom dia para as pessoas que trabalham no meu bloco. No início eles estranhavam, me olhavam como se eu fosse uma aberração, se entreolhavam e muito inseguros retribuíam o bom dia em voz baixa. Eu ficava chateada, mas mesmo assim continuava o meu ritual matinal.
Um dia, puxei conversa com uma menina que fazia a limpeza da piscina. Falamos sobre o protetor/bronzeador milagroso que tinham lançado há pouco tempo. Ele realmente é incrível, essa foi a conclusão que chegamos. A partir desse dia ela parou de me chamar de “senhora” e passou a me chamar de Mariana. Eu preferi assim. Odeio quando me chamam de senhora, me sinto esnobe. Depois de uns seis meses morando no condomínio passei a entender por que todos que trabalhavam ali olhavam para os moradores simpáticos com tanto espanto. Eram poucos. Poucos demais para o meu gosto.
Depois de oito meses passei a frequentar a academia, um verdadeiro milagre. Todo dia, às oito da manhã, eu passava pelo parquinho onde as babás brincavam com as crianças. Elas tinham que usar uniforme. Isso realmente me incomodava, na minha cabeça parecia que elas tinham que saber que elas não pertenciam à esse lugar. Uma forma de distinguir quem pertence e quem não pertence.
Hoje, um ano depois, vejo que eu não pertenço aqui. Não sou como as pessoas que moram aqui. Com suas roupas lindas, cabelos impecáveis, recepções em suas lindas casas (não que a minha casa não seja linda), mas sinto que esse não é o meu lugar. Por mais que eu gostaria que fosse. Talvez eu também, assim como as babás, deva começar a usar um uniforme.

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