Todo dia de manhã, saindo do
condomínio para comprar meu cigarro, paro na garagem para dar bom dia para as
pessoas que trabalham no meu bloco. No início eles estranhavam, me olhavam como
se eu fosse uma aberração, se entreolhavam e muito inseguros retribuíam o bom
dia em voz baixa. Eu ficava chateada, mas mesmo assim continuava o meu ritual
matinal.
Um dia, puxei conversa com uma
menina que fazia a limpeza da piscina. Falamos sobre o protetor/bronzeador
milagroso que tinham lançado há pouco tempo. Ele realmente é incrível, essa foi
a conclusão que chegamos. A partir desse dia ela parou de me chamar de
“senhora” e passou a me chamar de Mariana. Eu preferi assim. Odeio quando me
chamam de senhora, me sinto esnobe. Depois de uns seis meses morando no condomínio
passei a entender por que todos que trabalhavam ali olhavam para os moradores
simpáticos com tanto espanto. Eram poucos. Poucos demais para o meu gosto.
Depois de oito meses passei a
frequentar a academia, um verdadeiro milagre. Todo dia, às oito da manhã, eu
passava pelo parquinho onde as babás brincavam com as crianças. Elas tinham que
usar uniforme. Isso realmente me incomodava, na minha cabeça parecia que elas
tinham que saber que elas não pertenciam à esse lugar. Uma forma de distinguir
quem pertence e quem não pertence.
Hoje, um ano depois, vejo que eu
não pertenço aqui. Não sou como as pessoas que moram aqui. Com suas roupas
lindas, cabelos impecáveis, recepções em suas lindas casas (não que a minha
casa não seja linda), mas sinto que esse não é o meu lugar. Por mais que eu
gostaria que fosse. Talvez eu também, assim como as babás, deva começar a usar
um uniforme.
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