domingo, 3 de março de 2013

Parte 6


Tic-tac no relógio, que já foi um disco de vinil, na sala e Olívia parada olhando a tv enquanto se esparramava no sofá. Ela estava assistindo um seriado americano de jovens ricos em Nova Iorque e se sentia vivendo a série. Quando a mocinha se casou com o príncipe e deixou seu grande amor para trás Olívia chorou e sentiu a dor da perda. Mas parecia que era só ali que ela sentia, afinal nossa mocinha nunca teve um amor, quiçá um grande amor. Ela andava vivendo no esquema de Madalena. Toca o telefone, ela pula do sofá para achar o celular perdido no quarto. Pega o celular com pressa e atende. Ana reclamou um pouco do namorado, da família e da dieta. Ana  era a única pessoa com quem Olívia, às vezes, contava a verdade sobre como estava. “Amiga, eu tô cansada. Não sei nem de que, acho que eu estou ficando maluca, nem sei..” Olívia sentou no sofá e acendeu um cigarro. “Oli, você precisa é sair de casa. Vai fazer alguma coisa, vai viver de verdade ao invés de inventar pequenas vidas, isto que deve estar te cansando. Você tá vivendo mil vidas ao mesmo tempo, menos a sua.” Trago demorado. Levanta, anda de um lado para o outro. Olha pela janela. Sente o rosto esquentar, a garganta fechar, passa a mão sem cuidado nos olhos para evitar que as lágrimas caiam. “Ana, eu to bem. Só ando cansada. E eu estou vivendo a minha vida” mentira “Eu to fazendo o que eu tenho pra fazer. Eu só ando cansada... não é nada tão grave.” Falou sentindo aquele aperto no peito de quem mente. “Se você tá dizendo... Pelo menos me encontra, vêm pra cá, a gente sai pra tomar um drinque. O Daniel tá um saco, só fica estudando e só quer ficar em casa” pausa para pensar “sabe, vocês dois é que deviam ser amigos!” as duas riram. Olívia tentou enrolar, falou que já estava tarde mas Ana era implacável. Em uma hora ela estava à caminho do Leblon. Estava bonita, o cabelo escuro ondulado estava liso em um corte Chanel, vestido branco e sapatilhas creme. Na bolsa mensageiro marrom recém adquirida em uma crise de compras um caderno onde anotava tudo. Qualquer coisa podia virar uma história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário