Tic-tac no relógio, que já foi um disco de
vinil, na sala e Olívia parada olhando a tv enquanto se esparramava no sofá.
Ela estava assistindo um seriado americano de jovens ricos em Nova Iorque e se
sentia vivendo a série. Quando a mocinha se casou com o príncipe e deixou seu
grande amor para trás Olívia chorou e sentiu a dor da perda. Mas parecia que
era só ali que ela sentia, afinal nossa mocinha nunca teve um amor, quiçá um
grande amor. Ela andava vivendo no esquema de Madalena. Toca o telefone, ela
pula do sofá para achar o celular perdido no quarto. Pega o celular com pressa
e atende. Ana reclamou um pouco do namorado, da família e da dieta. Ana era a única pessoa com quem Olívia, às vezes,
contava a verdade sobre como estava. “Amiga, eu tô cansada. Não sei nem de que,
acho que eu estou ficando maluca, nem sei..” Olívia sentou no sofá e acendeu um
cigarro. “Oli, você precisa é sair de casa. Vai fazer alguma coisa, vai viver
de verdade ao invés de inventar pequenas vidas, isto que deve estar te
cansando. Você tá vivendo mil vidas ao mesmo tempo, menos a sua.” Trago
demorado. Levanta, anda de um lado para o outro. Olha pela janela. Sente o
rosto esquentar, a garganta fechar, passa a mão sem cuidado nos olhos para
evitar que as lágrimas caiam. “Ana, eu to bem. Só ando cansada. E eu estou
vivendo a minha vida” mentira “Eu to fazendo o que eu tenho pra fazer. Eu só
ando cansada... não é nada tão grave.” Falou sentindo aquele aperto no peito de
quem mente. “Se você tá dizendo... Pelo menos me encontra, vêm pra cá, a gente
sai pra tomar um drinque. O Daniel tá um saco, só fica estudando e só quer
ficar em casa” pausa para pensar “sabe, vocês dois é que deviam ser amigos!” as
duas riram. Olívia tentou enrolar, falou que já estava tarde mas Ana era
implacável. Em uma hora ela estava à caminho do Leblon. Estava bonita, o cabelo
escuro ondulado estava liso em um corte Chanel, vestido branco e sapatilhas
creme. Na bolsa mensageiro marrom recém adquirida em uma crise de compras um
caderno onde anotava tudo. Qualquer coisa podia virar uma história.
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