terça-feira, 26 de julho de 2011

Dúvida


“Sinta quem lê!” dizia  Fernando Pessoa, mas como alguém lerá um sentimento que não está lá? As letras, linhas parágrafos pareciam... nada , não pareciam eles. Era uma sopa de letrinhas, onde nada fazia sentido. Bom é quando o que não aparenta ter sentido, no fundo de si têm um fundamento ou alicerce, mas e quando o sem sentido é realmente sem sentido nenhum. É uma tenda sem seu suporte, fica vazia e leve, leviano, e como um grande paradoxo vem a cair sobre minha cabeça como um tapume. Aí eu paro para me perguntar, eu faço sentido agora? Eu, sequer, tenho sentido? O que venho sentindo? Sentir em todas as suas faces é assustador, cada ângulo traz o desconhecido e até para aqueles que dizem gostar do breu, cada um deles pode paralisar. Sentido e sentimento, tão sutis e violentos. Canções de ninar que paralisam, vêm a congelar até o mais ativo dos seres. Os dois ligados ao ser, e a ser. E aqui no meu vasto devaneio acabo tendo apenas uma grande certeza: o único sentimento que todos, desde um psicopata até uma criança, sentem é a dúvida. Será mesmo ou , mais uma vez, falo coisas sem fundamento?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Medo de sentimento

Deveras sinto sentir.
À quem almeja ser gelo,
Ser fogo dói.
Escolheria o não sentir,
Pelo simples medo da dor,
rejeição, angústia, solidão.
Porém se me pusesse a não sentir
Nunca estaria a desejar tal desejo.

Mariana Bernardes

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Solemnia Verba


Disse ao meu coração: Olha por quantos
Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, desta altura, fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos...
Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E a noite, onde foi luz a Primavera!
Olha a teus pés o mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!
Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do pensar tornado crente,
Respondeu: Desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se isto é vida,
Nem foi demais o desengano e a dor.
Antero de Quental

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Minas

Início,
Vim ao mundo sem querer.
Do ventre, conforto sublime, tiraram-me.
Ensinaram-me a não sentir.
Falaram-me o que falar.
E mandaram-me abafar o meu pranto.
Meio,
Com as pernas já bambas,
Já sem saber sentir,
Passei a caminhar sobre minas.
Me desfiz em mil
Mil de mim, mil máscaras
E fui ao chão.
Sem direção caminhei para o incerto,
Com a mais certa certeza:

O Fim.

Ouro

Às vezes me perco
Dentro dos moldes que me impõe.
Perco minha essência
Pois a minha religião é o caos,
Ele faz sentido.
Meu Deus são as palavras,
Caóticas e desorganizadas.
Tentam me colocar em barras de ouro
Quando, na verdade, sou apenas pedra.

domingo, 10 de julho de 2011

Sou o caos pt.2

Mas e quando sou eu? Eu amo, amo loucamente, inconsequentemente, inescrupulosamente. Sem pudores. Sem medos. Sem futuro. Amo no hoje até o que pode vir a me destruir, e mesmo sem saber se é amor, o que é o amor, acabo amando a possibilidade. Sou uma velha, a ultima romântica. Sem clichês, sem rosas ou chocolates. Mas a ultima. Acredito que sou desacreditada nos limites. Limites definem as possibilidades e eu, sendo eu, gosto mesmo do impossível, inatingível. Uma vez disseram-me que o impossível só é impossível quando é dito que ele o é. Como não dei ouvidos aos desacreditados acredito no meu impossível possível. Entro nele com todas as minhas forças e nada o tira de mim. Assim como nada me tira dele. Platão diz que o amor só é real, verdadeiro e perfeito quando vivido no mundo das idéias. O amor no mundo dos sentidos se engana, mente, pois os sentidos em si são distorcidos. Meu amor é distorcido até quando é real, então sendo ideal não me encanta. Pois eu, sendo eu mesma, gosto é do sonho da incerteza, gosto do engano. Amo meu tipo de amor simples e unicamente por ser quem sou. Parte caos e parte real.

Sou o caos


Amor. Amar. Ser amado. O que vejo do amor é estranho. Vejo amores amorosos e amores conturbados, mas não amo. Não aprendi a amar como os outros. Meu amar é possessivo, obsessivo, tem manias e é cheio de inseguranças. Uso do amor para achar um ponto inferior à mim e, assim, posso começar a me sentir melhor, maior, mais segura. Não procuro amor, procuro uma escada, um degrau. Degrau por degrau vou subindo mas vejo que em cada um deixo uma ruína de mim. Desgasto-me em meio ao fingimento, à mentira, ao egoísmo de ser mais dependendo do outro.
Vi o amor destrutivo de perto. Aprendi que o amor se agride, causa dor e conflito. Quando penso Nele, penso primeiro nos maus momentos e me delicio com eles, afinal eu sou o caos. Que graça veria no simples? Absolutamente nenhuma. Brigo comigo imaginando o outro e rio da situação mais desastrosa e danosa possível, afinal eu sou o caos. Amo o meu tipo de amor pois eu sou o caos.


Pedestal

Seria ainda preciso
Explicar o que tento dizer?
Lê, vê o que se apresenta à tua frente!
Por aí existem acéfalos a tentar.
Tentando, tentando e tentando.
Descontente começo a ficar
Por não penetrarem no que,
tão incansavelmente, estou a falar
Mesmo sem ter por quê.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

À carne

De amores sem final,
Como uma criança inocente
Pulo de um ao outro,
Presa à uma trama carnal.
O amor.
Este, ao qual me submeti,
Chegando perto do episódio final,
Ganhando vejo que perdi.

Mariana Bernardes

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Finito

O vento bate forte,
E já não vejo à frente.
O sempre fica longe demais,
Hoje minha eternidade parece finita.
Sois quem está a deixar uma marca,
Em quantos, ou apenas em minha pele,
Pele de cobra que se vai e fica pelo caminho dos outros.
Quando a encontrarem o que acharão, o que farão dela?
Se virar cinza estarei por aí a rodar,
Serei o vento forte que está preso ao ar.

Mariana Bernardes

terça-feira, 5 de julho de 2011

Flor


O que não tem raízes
Anda pelas ruas como folhas
As diretrizes já não me são de bom grado
Nem me são dadas pelos outros
São folhas, plantas, mas não flores
Flores escondem sua beleza dentro de si
E apenas a mostram para morrer
Pois desabrochar, abrir-se só pode ser compensado
Por um descanso eterno

Mariana Bernardes

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Qualquer

Quem sou eu para querer alguém?
Um alguém qualquer
Que venha ao mundo para me querer.
Um qualquer alguém
Que ame mais meus defeitos
E que queira mais de mim.
Que aceite um fardo inseguro
Este eu, mas um alguém qualquer
Não tão indiferente, nem tão menor
Alguém que queira um outro qualquer

domingo, 3 de julho de 2011

Só por hoje


Hoje não lamentarei as lamúrias do meu inferno
Olharei cegamente à frente dos meus sonhos
Seguirei sem leviandade guiado pelas mãos de iguais.
Hoje olhei para dentro e a bola de neve negra não estava lá
Viajei por trás das pálpebras fechadas e limitei meu senso
Construí, por fim, quem sempre fui
Tirei as correntes que feriam meus calcanhares
E decidi que daqui em diante andarei livre no desconhecido
Irei encarar meu caos e escuridão
Sem que precisem virar luz
Expurgarei meus demônios por entre os dentes
Serei meu caos em forma de verso

Mariana Bernardes

sábado, 2 de julho de 2011

Dilema dental

Ó ciso, por que dóis tanto?
Pare de me torturar.
Estás a entortar meus dentes
Que o aparelho tinha conseguido consertar.
Estás cortando minha pele, minha gengiva
E me causando uma profunda dor no orifício bucal.
Assim não me deixas escolha,
Terei que te tirar!

Mariana Bernardes
ps: só para brincar um pouco!

Canto ao vazio

Meu silêncio não diz quem sou
As palavras enganam a quem não tem
Olhos preparados para ver o óbvio
Quando ser é apenas efeito
Viver é caminhar para a escuridão
E as luzes no caminho é o que estou a buscar
Recuperar o que perdido foi não é só voltar atrás
É construir à frente o que se quer encontrar
Apenas é muito vazio
Onde o querer expande a realidade
O claro se mistura ao incomum
E a individualidade torna-se homogênea
Tudo se cruza e a graça do incomum
Começa a esvair-se por entre os dedos
Mesmos dedos que tentam incansavelmente
Segurar a última brisa de uma existência sedutora

Mariana Bernardes