Noite de domingo, choveu o dia
inteiro. Nada de dia amarelo, laranja ou vermelho. Hoje foi cinza. Tenho uma
certa predileção por dias cinzas e frescos, porém nunca por domingos.
Andando por botafogo, com um livro
de poemas tapando a minha visão da calçada, um bilhete dentro, senti nada. De
repente, senti nada. E de repente senti tudo. Parei por um momento, e,
observando a rua quase deserta, senti tudo de novo. Estou sendo muito
subjetiva, mas pretendo me explicar melhor.
Antes de sair de casa para dar
essa caminhada com meu livro, mania esquisita que tenho, tomei um bom banho.
Saí de casa me sentindo limpa. Eu me sinto limpa, em todos os sentidos. Passei
tempo demais sentindo que não tinha valor, sentindo que era uma pessoa suja e
malvada. Hoje não penso assim, pelo menos não o tempo todo. De certa maneira me
sinto diferente do que me sentia há dois anos atrás. Sei bem o que mudou.
Não pude deixar de pensar que
apesar de gostar de estar vivenciando essa nova fase, sinto certa falta daquela
outra. Principalmente da escrita daquela fase. Escrever de forma visceral,
atormentada e sofrida. Eu gostava de escrever assim, mas não gostava de viver
assim. Viver assim é duro, ninguém quer estar perto de alguém triste o tempo
todo. Eu era triste. Foi quando encontrei minha saída em um humor sarcástico e
tosco, que gosto. Escrever crônicas me faz bem. Obviamente não tem toda a carga
emocional dos poemas, mas eu amo escrevê-las.
Como de costume não sei se faço
sentido, acho que nunca fiz. Talvez essa seja uma daquelas confissões de uma
noite de domingo, onde já se está cansado e entediado consigo. Estou entediada
de estar comigo, são ossos do ofício. Só não posso esquecer de agradecer ao
autor do livro de poemas, ele me fez olhar para algo que há tempos estava
evitando. Obrigada.
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