“Mariana, por que você não limpa essa bota?” “Porque, pai,
essa sujeira me traz lembranças” “Isso é desculpa de preguiçoso...”. Não é não.
Toda vez que olho para minha querida bota suja de terra lembro daquela fuga. Sim,
daquela quando eu tinha quinze anos e fugi para um festival de rock em São
Paulo. Ah, aquele festival. Como eram bom aquele tempo!
Andando por uma Copacabana cinza, olhei pra bota que já
queria usar há alguns dias e sorri um sorriso largo, gargalhei sozinha. Aquele foi
um dos momentos que eu acho que vou passar a vida tentando reviver. Foi tão louco,
leve, livre e completamente irresponsável, até um pouco burro, mas tão bom. Coagir
uma amiga a fugir para São Paul, ver nossa banda preferida, dormir ao lado de
um banheiro químico em uma fazenda no meio do nada, ser esmagada por uma
multidão e ir com nada mais que poucos reais, uma bolsa atravessada e muita
cara de pau.
É por isso, querido pai, que eu não limpo esse coturno velho
e sujo. Pois toda vez que olho para ele me sinto de novo no meio do nada,
ouvindo música boa, com uma amiga, curtindo como se não existisse amanhã. Me
sinto naquele festival com esta bota suja.
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