sexta-feira, 29 de março de 2013

Entrevista: Flavio Corrêa de Mello

 Esta semana contei na fanpage do blog que teríamos novidades. Seguindo a linha "devo não nego, pago quando puder", aqui estou com a tão esperada inovação. Vou começar a postar, às quartas (estou um pouco atrasada), entrevistas com pessoas do meio literário. 
 Essa semana o entrevistado é o escritor e professor carioca Flávio Corrêa de Mello, que acaba de lançar seu segundo livro, Rio Movediço, publicado pela Editora Verve.
  À entrevista!

Guerra dos carrinhos de supermercado



Sexta feira santa, feriado, dia de mercado. Almoço em família. Bacalhau. Guerra no supermercado. Quem me conhece sabe da minha paixão por mercados, feiras e todo tipo de gastação de dinheiro relacionado à comida. Eu amo ir ao mercado, é a alegria do meu dia. Mas em épocas festivas vira o meu pior pesadelo, essa é a época das guerras de carrinho.
Festa é igual a comilança, isto é um fato. Mas no Natal, Ano Novo e na Páscoa as coisas ficam sérias. É Bacalhau pela metade do preço, Tender e Chester quase de graça, filas na seção da Canjica e da Lentilha, um inferno. Com isso em mente fui me aventurar na terra das promoções festivas, munida de paciência, tolerância, bom humor e com a companhia da minha amada irmã.
Chegando no mercado P o primeiro problema: o cheiro de esgoto no estacionamento. Não era um leve cheiro de excrementos e tristeza, era o odor dos amaldiçoados. Mil pessoas comeram um acarajé e um podrão durante três dias e decidiram ir ao mesmo banheiro. Era essa a situação. Lá se foi o bom humor.
A segunda situação foi: só tinha carrinho mega gigante. Por que isso é um problema? Pois são dez da manhã, todos estão no mercado fazendo as compras de última hora e todos com carrinhos gigantes. Não tem onde parar com o carrinho, não tem como passar com o carrinho, não tem como ser feliz com esse carrinho. O resultado foi desastroso, como de costume. Enquanto minha linda e paciente irmã pegava os itens da nossa extensa lista de compras eu ficava dando voltas intermináveis com aquele automóvel não motorizado.
E então que me surge a situação mais surreal que já passei em um mercado, e olhem que uma vez comprei Couve Chinesa achando que era Acelga. Quando finalmente achei um cantinho singelo para estacionar aquele trambolho me vêm um indivíduo esquisito, com uma camisa do Chapolin Colorado vermelha, bermuda cargo e cara de bunda, me fazer o maior desaforo possível dentro daquele ambiente. Ele empurrou meu carrinho com o carrinho dele! Assim, na minha frente. Frente de carrinho com frente de carrinho, até liberar o caminho. Meu instinto assassino veio à tona.
Passei os próximos trinta minutos tentando atropelá-lo, todas as minhas tentativas foram frustradas devido ao intenso transito dentro daquele ambiente cheio e incrívelmente irritante. Quando o achei no caixa, com um carrinho visivelmente menor que o meu, o que significa que ele poderia ter passado pelo corredor sem ter cometido aquele crime, me veio uma vontade irresistível de vingança. Obviamente, educada e levemente covarde que sou, não o concretizei, mas jurei que iria expô-la na internet. Então, indivíduo com a camisa vermelha do Chapolin que estava no mercado P em botafogo, se você algum dia ler isso, saiba:
 Receba esse Kinder Ovo imaginário que te dou e Feliz Páscoa, babaca!

quinta-feira, 28 de março de 2013

Home Alone


Meus queridos pais partem hoje para uma viagem de um mês para outro continente. A maioria dos jovens adultos ficariam felizes com uma notícia com esta, porém eu estou arrancando os cabelos. O filme “Esqueceram de mim” sempre foi um dos meus maiores pesadelos.
Sempre fui tratada como se fosse de vidro, pois sempre fui a filha problema. Me acostumei com isso. Acabei ficando confortável. Ser cuidada é mais fácil que cuidar de mim mesma. Mas no auge dos meus dezenove anos e a cabeça um pouco mais no lugar meus pais resolveram tirar essas merecidas férias de seus quatro filhos. Da caçula em especial (egocentrismo sempre foi uma característica dessa aí). O que acontece é que depois de tantos anos sendo tratada como incapaz de cuidar de mim mesma, hoje acredito veemente que sou incapaz. Morro de medo de mim.
Meu medo não é dar uma festa e destruir a casa, ou beber demais e desmaiar ou até quebrar algum cristal. Meu medo é como lidar comigo. Como se vive sozinho? Eu nem imagino. Infelizmente, ou felizmente, não faço nem ideia, estou prestes a descobrir.
Gostaria de tirar férias de mim, mas como estou sendo forçada a ficar comigo mais do que nunca, tenho que engolir o choro e parar de birra. Crescer, descobrir que não sou feita de vidro. Quem sabe eu assisto “Esqueceram de mim” enquanto estou nesse retiro de mim comigo mesma.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Sinta quem lê!

“Sinta quem lê!” dizia  Fernando Pessoa, mas como alguém lerá um sentimento que não está lá? As letras, linhas parágrafos pareciam... nada , não pareciam eles. Era uma sopa de letrinhas, onde nada fazia sentido. Bom é quando o que não aparenta ter sentido, no fundo de si têm um fundamento ou alicerce, mas e quando o sem sentido é realmente sem sentido nenhum. É uma tenda sem seu suporte, fica vazia e leve, leviano, e como um grande paradoxo vem a cair sobre minha cabeça como um tapume. Aí eu paro para me perguntar, eu faço sentido agora? Eu, sequer, tenho sentido? O que venho sentindo? Sentir em todas as suas faces é assustador, cada ângulo traz o desconhecido e até para aqueles que dizem gostar do breu, cada um deles pode paralisar. Sentido e sentimento, tão sutis e violentos. Canções de ninar que paralisam, vêm a congelar até o mais ativo dos seres. Os dois ligados ao ser, e a ser. E aqui no meu vasto devaneio acabo tendo apenas uma grande certeza: o único sentimento que todos, desde um psicopata até uma criança sentem é a dúvida. Será mesmo ou , mais uma vez, falo coisas sem fundamento?

Último cigarro


Acho que este será o último cigarro do dia. Eles acabaram e não consegui sair para comprar mais. Meu ninho é confortável e dentro dele minha alma está igualmente envolvida por abraços ternos. O tempo passa. Agora o relógio na minha parede mostra que não sou imune a ele. O tempo está passando, e eu o observo. Apenas observo. Choro pelo passado e temo o futuro, no presento só ansiedade. Jovens ansiosos e suas insatisfações constantes. Tudo está bem, e como isso me assusta. Amo e sou amada. Escrevo e  escrevo mais um pouco, depois escrevo mais. Tento mas ainda não sou nada. Por enquanto.
É o meu último cigarro, e o tempo, imponente, o queima. O tempo o queima. Dizem que o seu quarto, sua organização, mostra como está a alma. A minha é uma bagunça. Escrevo errado e rabisco, corrijo, volto, desfaço, enlouqueço. Não sei se quero vender-me. Se quero vender tudo que tenho. Esses são devaneios que poucos entendem, eu não entendo bem. O cigarro está acabando, são meus últimos tragos e o tempo continua correndo apressado.
Vou. Vou deitar-me neste devaneio e dormir sobre estas dúvidas. Mas sei que quando acordar dúvidas lá. Até, quando menos esperar, elas voltarem a me assombrar. É sempre assim. Posso estar lendo, escrevendo, andando sozinha, feliz ou triste. Uma hora elas vêm, impiedosas.  O tempo, como a dúvida, é barulhento e queimou meu último cigarro.

terça-feira, 26 de março de 2013

Ateus Desesperados


Venho de uma família católica. Não fanáticos, quer dizer, nem todos são, mas ainda sim gostam muito de frequentar a missa e respeitam muito as datas comemorativas da igreja. Em meus anos de rebeldia adolescente, indo a favor de todas as expectativas, me tornei ateia. Decidi que não acreditava em nada. Acreditar era para os fracos.
Existem dois tipos de ateus: aqueles que realmente não acreditam e vivem muito bem com isso, obrigada, e os ateus desesperados. Eu me encaixava nos desesperados. Esses são aqueles que dizem que Deus não existe, que a bíblia é uma grande farsa, falam tudo sem nenhum embasamento, apenas por falar. Porém quando a coisa aperta, rezam, pedem de joelhos e gritam: “PELO AMOR DE DEUS!”. Se o avião está caindo são os primeiros a rezar o Pai Nosso quinze vezes sem espaço para respirar.
Ainda tenho dificuldade em acreditar em Deus, prefiro acreditar no Segredo. Sou contra rótulos, mas sou a favor de toda e qualquer ideologia. Ateu desesperado, Ateu, Católico, Evangélico, Espírita, Umbandista, por mim tanto faz. Fazendo bem que mal tem? Mas devo dizer, os ateus desesperados por algum motivo desconhecido, são os meus favoritos.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Domingo cinzento


Noite de domingo, choveu o dia inteiro. Nada de dia amarelo, laranja ou vermelho. Hoje foi cinza. Tenho uma certa predileção por dias cinzas e frescos, porém nunca por domingos.
Andando por botafogo, com um livro de poemas tapando a minha visão da calçada, um bilhete dentro, senti nada. De repente, senti nada. E de repente senti tudo. Parei por um momento, e, observando a rua quase deserta, senti tudo de novo. Estou sendo muito subjetiva, mas pretendo me explicar melhor.
Antes de sair de casa para dar essa caminhada com meu livro, mania esquisita que tenho, tomei um bom banho. Saí de casa me sentindo limpa. Eu me sinto limpa, em todos os sentidos. Passei tempo demais sentindo que não tinha valor, sentindo que era uma pessoa suja e malvada. Hoje não penso assim, pelo menos não o tempo todo. De certa maneira me sinto diferente do que me sentia há dois anos atrás. Sei bem o que mudou.
Não pude deixar de pensar que apesar de gostar de estar vivenciando essa nova fase, sinto certa falta daquela outra. Principalmente da escrita daquela fase. Escrever de forma visceral, atormentada e sofrida. Eu gostava de escrever assim, mas não gostava de viver assim. Viver assim é duro, ninguém quer estar perto de alguém triste o tempo todo. Eu era triste. Foi quando encontrei minha saída em um humor sarcástico e tosco, que gosto. Escrever crônicas me faz bem. Obviamente não tem toda a carga emocional dos poemas, mas eu amo escrevê-las.
Como de costume não sei se faço sentido, acho que nunca fiz. Talvez essa seja uma daquelas confissões de uma noite de domingo, onde já se está cansado e entediado consigo. Estou entediada de estar comigo, são ossos do ofício. Só não posso esquecer de agradecer ao autor do livro de poemas, ele me fez olhar para algo que há tempos estava evitando. Obrigada.