domingo, 21 de abril de 2013

Entrevista: Solano Guedes


Solano Guedes, 33 anos, carioca, inicia sua trajetória profissional ainda adolescente como ilustrador, designer e produtor gráfico, aos vinte anos o interesse pelas artes plásticas aumenta e a partir do curso de Artes na Universidade do Estado do Rio de Janeiro passa a participar de eventos da cena alternativa como o Mola ( Mostra Livre de Artes) no Circo Voador, III Semana de Cultura de Santa Teresa, Artes de Portas Abertas além de aparições no Imaginário Periférico sendo sua experiência mais recente a internacional Drive-In Rio, exposição coletiva por ocasião da Rio+20.Convivendo com nomes como Alexandre Vogler, Luis Andrade, Jorge Duarte e Cristina Pape, Ronald Duarte, Cristina Salgado entre outros, decide em 2008 partir para uma experiência no atelier de grandes formatos de Walter Contreras, pintor chileno radicado em São Paulo, retornando ao Rio em 2009. A texto sempre esteve presente na raiz de seu processo criativo, poeta e letrista, tem a faixa Contas, parceria com Lucas Dain gravada no álbum Flúor por Escambo Banda e Menininha gravada por Sandálias Banda. Além de outras experiências disponíveis na internet. Em 2009 lança A história dos três pontinhos que ganha uma edição especial em 2010 pela prefeitura de Belo Horizonte, em 2011 é a vez de A revolta das vogais ambos por Vieira e Lent Casa Editorial, infantojuvenis, os livros se valem de muita metalinguagem e uma boa dose de bom humor, ultrapassando 10.000 exemplares vendidos no Brasil, tem nos elementos da língua portuguesa seus personagens e pretendem fazer o leitor pensar a cerca de questões presentes nas entrelinhas da vida comum. Inéditos e ainda não ilustrados estão os títulos O eu que não sabia ser eu, onde uma crise existencial de um pronome do caso reto é descrita e Mu{L}tilado, texto adulto em prosa poética resultado de um apanhado de alguns anos de manuscritos e desenhos feitos em cadernetas que organizam uma tempestade de ideias. Atualmente se dedica à literatura ao desenho e a pintura e ao design, procurando no texto a imagem e na imagem o texto e na atividade artística o ser humano.

À entrevista!



1-      Como surgiu o interesse pelas artes e pela escrita?
Interesse? Eu não sei se foi bem interesse, na verdade eu acho que é uma condição que me acompanha desde que eu tenho muito pouca idade. Quando eu era criança minha mãe tinha certa dificuldade de lidar com o fato que eu ficava pouco tempo parado, eu brincava o tempo inteiro correndo de um lado para o outro, diferente do meu irmão que era uma criança mais calma, e ela percebeu que uma das coisas que me mantinha quieto durante muito tempo era o contato com canetas, giz de cera, papel, de uma maneira geral e isso se tornou um hábito diário a partir de uns três anos de idade. Foi mais pra dar uma folga pra ela, já que eu e meu irmão ficávamos lá na mesinha produzindo. Então foi aí que começou.

2-      Os seus dois livros, “A História dos três pontinhos” e “A Revolta das vogais” são livros classificados com infanto juvenis. Sempre houve interesse em escrever para esse público?
Nunca houve interesse em escrever literatura infanto juvenil, sempre houve interesse por escrever. Eu acho que não cabe a mim dizer qual é a minha literatura, cabe ao mercado, ao público, ao leitor. Eu não encaro nenhum dos dois livros como livros infanto juvenis e principalmente a história dos três pontinhos que foi lançado por Vieira & Lent, em 2009. Este é um livro que eu considero de 8 à 80 anos.

3-      O que é o projeto “Dois contos”?
Dois contos é um projeto de literatura subterrânea, underground que também é chamada de alternativa, na minha concepção é mais falta de alternativa. É um livreto com dois contos anônimos. O primeiro volume os dois contos foram escrito por mim e a partir daí eu pretendo fazer com que outras pessoas se interessem em trazer a público contos pequenos e curtos, que caibam na diagramação do livreto.  A ideia é que esses livretos sejam vendidos por dois reais. É uma brincadeira: dois contos vendidos por dois contos. O capital arrecadado vai ser reinvestido na publicação de um novo volume e para os contribuidores.
Dois contos não é uma coleção com objetivo de lucro, isso é bastante difícil em um projeto como este. Não é fácil vender literatura alternativa, underground na rua. Mas o projeto é esse, é bem simples: publicar anonimamente, vender anonimamente e reverter essa receita na publicação de um novo exemplar e contemplar as pessoas envolvidas diretamente com o projeto com a receita, se ela for feita.

4-      Por que a preferencia pela literatura underground?
O mercado das artes de uma forma geral é como um rio Nilo, digamos assim. Mas existem suas margens, e elas também são muito passíveis de trabalho. Não é uma contraposição com a estética nem com a condição pop de um produto. Um produto de arte pode ser encarado como undergroud, subterrâneo simplesmente por que é conhecido por um pequeno número de pessoas. Existe material pop que é extremamente alternativo e vice-versa. Então não é preferência pela literatura underground, mas pelo subterrâneo em si. Pelo poder passear pelos lugares sem ser interrompido, por poder usar qualquer roupa, por poder se preocupar mais com o trabalho que se faz do que com a imagem que se passa. Eu não tenho nada contra o pop nem contra a fama, pelo contrário.
Não é paixão, é uma condição. Sou representado pela Vieira & Lent Casa Editorial, meu livro esta na Livraria Argumento, Livraria Cultura, na Saraiva. Essas são livrarias grandes. Então é tudo muito menos por uma questão de opção e mais por uma questão de não opção. Não é o mercado alternativo e sim o mercado da não alternativa.

5-       Um conselho para os novos escritores:
Envelheçam, é o único conselho

6-      Para você existe um processo criativo?
Para mim existe um processo de vida, e a vida é o processo criativo. Se você observar o planeta está em processo de criação o tempo inteiro e o ser humano nada mais é do que parte de um todo que ele não compreenderá. A partir do momento que os olhos se abrem e você tem direito àquelas horas que você vai permanecer acordado eu acho que você, que eu vou criando meu dia. Eu atraio coisas e é só prestar atenção no que eu vou atraindo e organizar. Se você vai organizar isso em um trabalho de arte, independente do que seja, não importa. Esse é o processo criativo e é isso que faz com que todos os seres humanos sejam iguais. É até bom que isso seja dito para que as pessoas entendam que elas não tem absolutamente nada de diferente de um artista. O artista vive uma condição, assim como outras pessoas tem uma condição, o médico, o advogado, o jornalista, o engenheiro...
O processo criativo é de posse da humanidade. Ele se organiza a partir do momento que você está vivo. Em relação à arte é uma questão de organizar a produção. Desorganizando eu posso organizar, mas precisa organizar.

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