Domingo de Páscoa. Para mim esse sempre foi um dia para se
passar com a família, comemorando algo que nunca entendi bem e uma boa desculpa
para gastar demais com chocolates em forma oval. Nunca procurei muito o
significado das datas religiosas em que acontece algum tipo de comemoração. Pois
bem, nessa páscoa toda a minha crença que o importante era o chocolate caiu por
terra. A páscoa não é mais uma desculpa para ganhar alguns quilinhos e vou
explicar o por quê:
Volta e meia começo e recomeço a escrever uma história, que
há dois anos ronda minha inquieta cabecinha. É uma história bastante complicada
e que requer que eu olhe bastante para mim. Não para as partes cotidianas e
leves, mas sim para um lado meu que nem gosto de admitir que ainda existe. Bom,
ele existe e me acompanhou pela maior parte da minha vida. Isso requer certo
equilíbrio de mim comigo mesma, o que é muito raro. Recomecei a escrever essa
história e junto dela me veio a necessidade de fazer uma retrospectiva sobre
minha vida.
Independente de ser nova, acho que já passei por bons e maus
bocados. Idade não quer dizer absolutamente nada. Cada um tem seu caminho, o
meu foi e continua sendo, bastante tortuoso. Dito isso é de se imaginar que
fazer uma retrospectiva seja um tanto doloroso, porém volta e meia se faz
necessário. Com isso em mente, tirei minha noite de sábado para tomar chá,
coisa que não fazia há algum tempo, e relembrar tudo. Tudo que foi bom, ruim,
doloroso, que me trouxe felicidade e infelicidade, que me fez querer viver e
que me fez querer sumir da face da terra. Mais uma vez: idade é só um número.
Dormi no meio de um turbilhão de lembranças, na maior parte dolorosas.
Eis que no domingo de Páscoa, à caminho da casa da minha
irmã mais velha para o tradicional almoço cheio de bacalhau e chocolate, leio
um tweet da escritora Mayra Dias Gomes. O tweet, que vou traduzir e resumir
mal, por sinal, falava mais ou menos o seguinte: “A páscoa não é mais uma
desculpa para comer chocolate ou ganhar alguns quilinhos. Agora quer dizer se
levantar após uma queda. É sobre nascer de novo.” Ela me mostrou o caminho das
pedras. De repente me calei, o que é raro, e voltei a pensar em minha vida
dessa vez com outra visão.
Quantas vezes em nossas vidas não caímos? E quantas vezes
não nos levantamos? Posso dizer por mim que foram inúmeras. E que posso levar
para minha vida a história de Jesus como uma metáfora. Nascer de novo. A Páscoa
agora será uma época de retroceder e ver que, sim, caí, falhei, fraquejei, mas
que posso me levantar e me recriar. Não preciso mais ficar presa às correntes
do meu passado, posso aceitar minhas tristezas e falhas e começar de novo, dia
após dia. Isso é óbvio, é algo que todos sabem, é um conselho já conhecido. Mas
senti isso no meu íntimo e posso dizer: isso mudou o jeito que encaro meu
passado e talvez possa mudar o jeito com que venho lidando com meu presente.
Mais tarde, já exausta, tive mais uma prova disso, quando um
conhecido, amigo que gosto assim, de graça, decidiu renascer. Logo na páscoa.
Enquanto ele não tiver forças para acreditar em si, darei as minhas, pois se já
acreditava nele antes, depois do simples gesto de pedir ajuda em um domingo à
noite, acredito mais e mais. Sinto que nasci de novo, de coração limpo, e sem
carregar o peso de meu passado. Talvez seja esse o encanto da Páscoa e talvez o
chocolate sirva só para adoçar a dor de lembrar dos momentos difíceis.
Recomeçar sempre! precisamos renovarmos todos os dias, sempre é tempo de ser novo, de mudar de vida o nosso futuro é decidido todos os dias! :)
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