José está a fumar um cigarro na janela do apartamento
apertado. Apartamento alugado. Nada ali lhe pertence, apenas o cigarro. José se
senta no sofá velho, dá um trago, pega seu pequeno caderno e se põe a escrever
novamente.
Maria sai do banho, pergunta a Zé o que está a escrever. Zé
responde que está a escrever sobre dor. Ele sempre escreve sobre dor. Sempre com
um cigarro, no apartamento apertado, apartamento alugado, que não lhe pertence.
Nada lhe pertence. Maria, curiosa, pergunta porque seu homem sempre escreve
sobre dor. Nunca vira Zé escrever sobre amor, flores ou dias ensolarados. Nada
lhe pertence. Maria, enrolada na toalha pega o cigarro do homem no sofá, vai
até a janela e fuma, ali, banhada pela noite.
Um Zé, aflito, tristonho, que nada tem, responde à Maria: “Só
posso escrever sobre o que conheço.”
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