sexta-feira, 31 de maio de 2013

Diário de notas sem texto


(6)
21 de maio de 2013 – 11:19
Estou há exatos sete dias do lançamento do meu primeiro livro, o Demasias. Desde que recebi o e-mail da editora aprovando o original venho fazendo uma lista de tudo que pode dar errado.
Acredito que o medo nos faz prudentes. Acredito também que ele nos faz pequenos, mas isso todos já sabem, não falo nada de novo. O que mais me intriga é o seguinte: o que mais me dá medo não é o que pode dar errado mas sim o que pode dar certo.
Somos preparados para o fracasso porém nunca para o sucesso. Se der errado a receita é aquela que cansamos de ler nos livros de auto ajuda e nos programas de televisão: não desistir e seguir em frente. Mas se der certo, o que fazemos? A Ana Maria Braga ensina isso?

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Entrevista: Thereza Christina Rocque da Motta




Há dois anos atrás conheci Thereza no Corujão da Poesia, que ainda acontecia no Catete. Foi o evento da minha vida e também um grande acontecimento. Lembro que na época já estava para lançar o Demasias, que devido ao medo desisti de forma magistral. Mesmo assim naquele dia travei uma conversa rápida com Thereza e ela foi muito gentil e solícita com aquela pequena escritora excessivamente efusiva e produzida para o evento. No mesmo dia a adicionei no Facebook.
Dois anos depois, menos efusiva porém igualmente medrosa pedi que ela concedesse esta entrevista para meu tão querido blog e para minha alegria ela, muito solícita, concordou.
Então, queridos amigos, tenho o enorme prazer de dividir com vocês essa entrevista maravilhosa. Mas primei vamos às apresentações:

Thereza nasceu em São Paulo e logo foi passear: Boston, Assunção e Montevidéu. Aos cinco anos veio para o Rio e aqui ficou até os dezoito, com essa idade foi para São Paulo de novo. Fez vestibular para direito na faculdade Mackenzie, onde foi convidada para fazer parte da redação do jornal Análise do DCE da Universidade. Devido aos poemas que ali publicava fundou um grupo de poetas mackenzistas.
O primeiro livro veio em 1980. Porém o início da carreira profissional, em 81, estancou o processo criativo.  Só em 92 Thereza retoma a publicação de livros porque “parar de escrever eu nunca parei”. Em 99 ela retorna ao Rio e ao ver eventos de poesia em franca atividade, funda um grupo de poeta, os Descaravelados.
No ano 2000 lança a editora Ibis Libris, da qual hoje é sócia diretora.

À entrevista!

terça-feira, 21 de maio de 2013

Diário de notas sem texto


(4)
20 de maio de 2013 – 13:14
Sobre escrever, venho percebendo o quão esquizofrênica é minha escrita. Talvez qualquer escrita. O que me fez chegar à essa conclusão foi o Twitter, querido amigo de todas as horas.
A rede social consiste em escrever para si mesmo esperando que alguém vá responder ou replicar seus devaneios particulares. Daí tirei minha conclusão da escrita esquizofrênica. Seguindo a linha da honestidade que prometi há duas notas atrás, irei confessar uma coisa: escrevo para ser lida. Não irei perpetuar a mentira que escrevo para mim, pois desde que comecei a escrever mantenho um blog que faço bastante questão de divulgar. Porém, há vezes nas quais sinto que meus textos são conversas que travo comigo. Aliás essa é uma mania que desenvolvi, discuto comigo em voz alta, volto e meia até me altero. À noite acordo com essas conversas ecoando em minha cabeça, como o esquizofrênico que ouve vozes, e me ponho a escrever, frenética, para aliviar a perturbação que isto me causa.
Se eu escrevesse, escreveria esquizofrenias desgovernadas que em si devem fazer algum sentido particular.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Diário de notas sem texto

(2)
17 de maio de 2013 – 2:15 da manhã
As pálpebras pesadas incomodam bastante, pois quero dormir e não consigo. A doce terra dos sonhos parece distante. Esse é o momento de me explicar melhor.
Toda a minha personalidade consiste em ser mais uma pobre jovem rica, perdida em suas pretensões e com a insistente mania de ser pouco realista, apesar de extremamente crítica. Começo a escrever essas notas despida de personagens. Aqui represento a mim mesma, perdida nos meus quase vinte anos e no, ouso dizer, inferno de ser jovem nessa geração. Não pretendo mentir nas notas que se seguem, o que eventualmente pode acontecer, então começo contando uma verdade vergonhosa: tenho o sonho secreto de ser uma voz da geração que tanto afirmo detestar. Como já disse, aqui não sou nenhum personagem e me atrevo a escrever à mão em uma folha sem linhas.
Como a maioria da minha idade sonho com uma carreira financeiramente inviável, o que desagrada secretamente meus pais. Quero escrever livros, eles querem que eu seja jornalista. A faculdade não está nos meus planos, mas o que não fazemos por amor? A convivência, por outro lado é quase uma missão impossível. A matemática é simples e a realidade complicada.
Aprendi quando pequena que não é de bom tom falar muito sobre si, então apesar de escrever notas completamente biográficas e um blog, vou fingir ser um exemplo de etiqueta e parar antes de me tornar rude.

domingo, 19 de maio de 2013

Feira das Vaidades



Leblon, bairro da zona sul carioca, parte nobre da cidade. Onde as pessoas são bonitas demais e tudo parece ser caro. Sonho de consumo de 9 entre 10 cariocas, brasileiros até. Lugar que me causa certo medo.
No final de semana combinei com uma querida amiga de ir ao shopping do bairro. O melhor shopping da cidade na minha opinião, o antro da perdição dos gastadores descontrolados como eu. Vou lançar meu primeiro livro e o figurino da noite não pode ser nada menos que incrível. Sou mulher, acho que a paixão por roupas está mais fundo no meu ser do que imagino.
Em uma das lojas caras demais, no provador pomposo demais, ouço de intrometida uma conversa entre duas amigas, como fui perceber mais tarde à muito contragosto, não muito diferentes de mim e minhas próprias amigas. As duas falavam o seguinte:
-       Amiga, achei uma saia com uma preço ótimo na loja X
-       Jura? Quanto estava?
-       Acho que estava 2 vezes um número de três dígitos ímpar
-       Nossa, realmente muito barato! Vamos lá depois
Minha reação imediata foi conferir a etiqueta da saia que a vendedora da loja pomposa tão gentilmente me entregou prometendo que iria “causar” no evento. Ela custava o mesmo valor que as duas amigas do provador ao lado afirmavam ser um preço ótimo. Era quase o valor de um salário mínimo. Admito que na hora não dei muita importância, afinal minha cabeça estava mesmo em achar a roupa perfeita para o dia do evento.
Três lojas depois achei o tal vestido, este, como eu disse para minha querida amiga, estava “com um preço maravilhoso”. Mentira, estava nada. Passei o pedacinho de plástico na maquina mágica e lá fui eu, me sentindo uma nova pessoa, com mais uma roupa para jogar no guarda roupa abarrotado.
Não estou aqui para criticar a indústria da moda, pois a admiro imensamente. O que me intriga é como gastar dinheiro com mais e mais roupas ou sapatos que não precisamos nos dá uma sensação de validez completamente falsa. Quanto mais cara a saia, o vestido, a jaqueta, ou qualquer outra roupa melhor eu sou do que o amiguinho, é isso? Quanto mais eu tenho mais eu valho? E desde quando o valor de um salario mínimo é um preço ótimo em uma minissaia?
Eu estou ficando louca ou realmente vivemos em uma feira das vaidades?

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Margarita Virgem



Depois de um longo hiato para clarear a mente e sem muitas ideia mais claras, cá estou novamente. Em uma noite de segunda feira bem típica, quando já achava que depois de uma longa semana tinha me tornado uma escritora do Não, com uma síndrome de Bartleby de matar, lembrei-me de um acontecimento do meu sempre animado final de semana. Lá se foi a síndrome de Bartleby.
Eis que estou em uma sexta à noite em um restaurante mexicano com Mariachis e tequileiros, no aniversário de uma querida amiga que já foi coagida a fugir para São Paulo comigo, história de outras crônicas. Eu me encontrava solitária em meu hiato, pedindo aos deuses do teclado que algo extraordinário acontecesse para que a tal pausa mental finalmente chegasse ao fim. Depois de encher a cara de comida apimentada demais para minha própria segurança e bem estar engatei uma conversa que tinha a ver com rótulos e liberdade para ser o que quisermos ser. Mais uma revolta pseudo libertina e idealista sobre como todos deveriam se comportar.
Quando a conversa chegou ao fim e todos que participavam desta partiam para novas revoltas, como o “quadradinho de oito” e como o funk não se encaixa na categoria de cultura popular (esta última discordei fortemente), decidi fazer uma extravagância e pedir uma Margarita virgem. Enquanto bebericava o drink sem álcool algo me veio à cabeça: por que comecei com esse hiato? A pergunta resistiu ao dia das mães e a um resfriado sem que eu conseguisse respondê-la. Abatida e de cama por causa do resfriado que parece ter saído das profundezas do inferno me dei conta que tudo começou quando decidi seguir um conselho. Minha avó sempre me disse: “Se conselho fosse bom ninguém dava, vendia.”. Esta se provou a mais pura verdade.
Segui o tal conselho, que foi dar um tempo na escrita para clarear as ideias. Depois de uma semana e com minhas faculdades mentais mais confusas do que nunca, concluí o obvio: não preciso dar um tempo de escrever, preciso é escrever para dar um tempo. Escrever é bom, não escrever é que me deixa louca e acaba resultando até em doenças, como o tal resfriado que parece não ter fim. Não tenho síndrome de Bartleby, minha síndrome ainda não tem nome e até onde pesquisei não foi catalogada pela OMS.
Um hiato serve para quando não temos ideia, e eu, até começar com essa história, tinha muitas. Escrever não vem de um lampejo divino onde mil ideia caem em nossas cabeças, mas sim de trabalho. Quanto mais se escreve mais se têm a escrever. Comigo funciona dessa maneira, poucas vezes fui agraciada por tal lampejo divino. Escrever não funciona com hiatos, é preciso se manter ativo, não importa quantas débeis catarses  possam vir pelo caminho.
Querido amigo que me deu o conselho maldito: não  sei escrever com a mente clara, só escrevo com minhas ideias completamente desgovernadas, pois essa foi a maneira que encontrei de domá-las. Se alguém se encontra em um hiato recomendo altamente a combinação Mariachis e drinks sem álcool,  um pouco de revoltas sem sentido e infelicidades crônicas podem ajudar, mas a Margarita virgem foi a responsável por desencadear o processo de completa desordem mental e consequentemente uma crônica para organizar a cabeça sempre desorganizada.