terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Parte 4


  No carro à caminho de botafogo conversaram sobre quem estava ficando rico, quem estava empobrecendo, sobre a “Classe-Mérdia” que queimava sem tetos em Brasília e finalmente na futura faculdade. “Pai, o senhor sabe que eu estou me preparando, estudando bastante...” mentira “...esse tempo livre está sendo bem aproveitado, te juro”. Ele pegou sua mão, deu um beijo e disse “Sei que você vai ser grande.” Olívia sentiu uma certa dor por ter mentido, aquela dor pequenininha no peito e a voz da consciência dizendo que deveria parar de mentir sobre a vontade de cursar Direito. Melhor mesmo era deixa-lo feliz. Ele estava ficando velho e doente. Diabetes, pra quem não se cuida pode ser uma doença muito traiçoeira. “Minha mãe anda mais calma?”. Ela andava mais calma sim depois do último imóvel inescrupulosamente caro que havia comprado em Botafogo, as dívidas estavam quitadas e sua única filha encaminhada.  “Graças a Deus! Vou te contar uma história, mas que fique entre nós combinado?” Sim, combinado. “No início do nosso casamento sua mãe era um bicho, eu nem sei como eu aguentava. Teve uma vez que ela estava de TPM, e a mulher de TPM era o demônio, minha filha, o demônio. Era uma briga por causa de dinheiro e ela tentou avançar em mim, ia tentar me bater, nem sei..” Isso deve ter sido engraçado “...quando ela veio para cima dei um empurrão de leve, pra me proteger sabe?! E a doida caiu em cima da cama...” “Ela chorou?” “Chorou nada, arrumou minha mala para eu sair de casa. Fui ver um apart em Ipanema, eu acho. No dia seguinte eu cheguei em casa e descobri que ela tinha tentado se matar, tomou uma cartela de remédio inteira. Mas acabou ficando com uma diarreia monstruosa, filha” os dois estavam rindo muito com essa história. Olívia imaginou sua mãe deitada na cama fazendo um dramalhão, como as atrizes de Hollywood. Aquilo era realmente engraçado. “Levei a mulher pro hospital e fiquei a noite inteira lá enquanto ela tomava soro. Ela ficou desidratada de tanta dor de barriga.
  No dia seguinte, quando a gente voltou pra casa, ela acabou descobrindo do apart. Arrumou duas malas e ficou me esperando voltar do trabalho. Eu cheguei, vi aquilo e pensei ‘que porra é essa? Que quê essa mulher tá aprontando?’ aí ela me vira e diz, cm a  maior cara lavada: “meu amor arrumei nossas malas pra gente ir pro apart em Ipanema! Nós vamos ficar lá dois dias em lua de mel!” “E você foi pai?” “Eu fui né, você sabe como a sua mãe é.. Mas valeu, depois disso a gente ficou um tempo numa boa.” Por essas e outras Olívia era tão apaixonada pelos pais. Ela os achava doidos, e eles eram, mas ela os amava. Nada de contar sobre a faculdade hoje.

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