Tic-tac no relógio, que já foi um disco de
vinil, na sala e Olívia parada olhando a tv enquanto se esparramava no sofá.
Ela estava assistindo um seriado americano de jovens ricos em Nova Iorque e se
sentia vivendo a série. Quando a mocinha se casou com o príncipe e deixou seu
grande amor para trás Olívia chorou e sentiu a dor da perda. Mas parecia que
era só ali que ela sentia, afinal nossa mocinha nunca teve um amor, quiçá um
grande amor. Ela andava vivendo no esquema de Madalena. Toca o telefone, ela
pula do sofá para achar o celular perdido no quarto. Pega o celular com pressa
e atende. Ana reclamou um pouco do namorado, da família e da dieta. Ana era a única pessoa com quem Olívia, às vezes,
contava a verdade sobre como estava. “Amiga, eu tô cansada. Não sei nem de que,
acho que eu estou ficando maluca, nem sei..” Olívia sentou no sofá e acendeu um
cigarro. “Oli, você precisa é sair de casa. Vai fazer alguma coisa, vai viver
de verdade ao invés de inventar pequenas vidas, isto que deve estar te
cansando. Você tá vivendo mil vidas ao mesmo tempo, menos a sua.” Trago
demorado. Levanta, anda de um lado para o outro. Olha pela janela. Sente o
rosto esquentar, a garganta fechar, passa a mão sem cuidado nos olhos para
evitar que as lágrimas caiam. “Ana, eu to bem. Só ando cansada. E eu estou
vivendo a minha vida” mentira “Eu to fazendo o que eu tenho pra fazer. Eu só
ando cansada... não é nada tão grave.” Falou sentindo aquele aperto no peito de
quem mente. “Se você tá dizendo... Pelo menos me encontra, vêm pra cá, a gente
sai pra tomar um drinque. O Daniel tá um saco, só fica estudando e só quer
ficar em casa” pausa para pensar “sabe, vocês dois é que deviam ser amigos!” as
duas riram. Olívia tentou enrolar, falou que já estava tarde mas Ana era
implacável. Em uma hora ela estava à caminho do Leblon. Estava bonita, o cabelo
escuro ondulado estava liso em um corte Chanel, vestido branco e sapatilhas
creme. Na bolsa mensageiro marrom recém adquirida em uma crise de compras um
caderno onde anotava tudo. Qualquer coisa podia virar uma história.
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domingo, 3 de março de 2013
Parte 6
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sábado, 2 de março de 2013
Parte 5
Naquela noite Olívia tentou escrever. Tentou e tentou de novo
mas nada saía dela. O medo de ser uma pessoa vazia voltou a rondar sua cabeça.
Em uma conversa que teve com uma amiga, Olívia contou que sempre contava sua
vida, sua história para todos. Ela fazia isso principalmente com os taxistas. À
essa altura, metade do Rio de Janeiro devia conhecer sua vida de cabo à rabo. São
tantos taxis e taxistas por aqui. Sua amiga, Luiza, falou sem ser muito
delicada que isso era seu ego, necessidade de aprovação. ‘Não pode ser isso, é
só vontade de conversar. Quem sabe a minha história ajuda a vida de alguém...’
É claro que não iria ajudar ninguém, o universo funcionava sem suas histórias.
No final não era caridade o que ela fazia e sim alimentar o seu ego. Olívia
adorava ouvir “Nossa, nunca imaginei que uma menina como você tivesse essa história
toda”. Na verdade, verdade mesmo, na maioria das vezes a história tão absurda e
interessante que contava nem era sua mas sim das suas personagens e de outras
pessoas, mas Olívia tomava todas como suas próprias e assim devia ser a
passageira mais interessante do Brasil.
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12:28
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Parte 4
No carro à caminho de botafogo conversaram sobre quem estava
ficando rico, quem estava empobrecendo, sobre a “Classe-Mérdia” que queimava
sem tetos em Brasília e finalmente na futura faculdade. “Pai, o senhor sabe que
eu estou me preparando, estudando bastante...” mentira “...esse tempo livre
está sendo bem aproveitado, te juro”. Ele pegou sua mão, deu um beijo e disse
“Sei que você vai ser grande.” Olívia sentiu uma certa dor por ter mentido,
aquela dor pequenininha no peito e a voz da consciência dizendo que deveria
parar de mentir sobre a vontade de cursar Direito. Melhor mesmo era deixa-lo
feliz. Ele estava ficando velho e doente. Diabetes, pra quem não se cuida pode
ser uma doença muito traiçoeira. “Minha mãe anda mais calma?”. Ela andava mais
calma sim depois do último imóvel inescrupulosamente caro que havia comprado em
Botafogo, as dívidas estavam quitadas e sua única filha encaminhada. “Graças a Deus! Vou te contar uma história,
mas que fique entre nós combinado?” Sim, combinado. “No início do nosso
casamento sua mãe era um bicho, eu nem sei como eu aguentava. Teve uma vez que
ela estava de TPM, e a mulher de TPM era o demônio, minha filha, o demônio. Era
uma briga por causa de dinheiro e ela tentou avançar em mim, ia tentar me
bater, nem sei..” Isso deve ter sido engraçado “...quando ela veio para cima
dei um empurrão de leve, pra me proteger sabe?! E a doida caiu em cima da cama...”
“Ela chorou?” “Chorou nada, arrumou minha mala para eu sair de casa. Fui ver um
apart em Ipanema, eu acho. No dia seguinte eu cheguei em casa e descobri que ela
tinha tentado se matar, tomou uma cartela de remédio inteira. Mas acabou
ficando com uma diarreia monstruosa, filha” os dois estavam rindo muito com
essa história. Olívia imaginou sua mãe deitada na cama fazendo um dramalhão,
como as atrizes de Hollywood. Aquilo era realmente engraçado. “Levei a mulher
pro hospital e fiquei a noite inteira lá enquanto ela tomava soro. Ela ficou
desidratada de tanta dor de barriga.
No dia seguinte, quando a gente voltou pra casa, ela acabou
descobrindo do apart. Arrumou duas malas e ficou me esperando voltar do
trabalho. Eu cheguei, vi aquilo e pensei ‘que porra é essa? Que quê essa mulher
tá aprontando?’ aí ela me vira e diz, cm a
maior cara lavada: “meu amor arrumei nossas malas pra gente ir pro apart
em Ipanema! Nós vamos ficar lá dois dias em lua de mel!” “E você foi pai?” “Eu
fui né, você sabe como a sua mãe é.. Mas valeu, depois disso a gente ficou um
tempo numa boa.” Por essas e outras Olívia era tão apaixonada pelos pais. Ela
os achava doidos, e eles eram, mas ela os amava. Nada de contar sobre a
faculdade hoje.
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10:42
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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Parte 3
Domingo Olívia foi se encontrar com os pais
e amigos em um restaurante caro para depois ver o imóvel recém-adquirido do
casal. Uma bela casa na Barra da Tijuca em um condomínio de luxo. Como de
costume, chegou antes de todos. Observou as pessoas no longe do restaurante
enquanto fumava um cigarro, um dos pequenos prazeres da vida. Ela não tirava os
olhos de um senhor que, sentado do outro lado da gigantesca mesa de madeira no
espaço aberto, tomava um Uísque. Não um copo, mas sim uma garrafa inteira.
Talvez aquele beber quase desesperado do senhor fosse uma fuga, imaginou. Ele
deve ter uma esposa dessas que pede demais. Bolsas demais, sapatos demais,
dinheiro demais, tudo demais. Então foi ao restaurante no domingo ao meio dia,
mentindo para a Esposa que iria ao clube, no qual tinha parte da sociedade,
para ver o andamento dos negócios. Negócios geram dinheiro, a Esposa não tinha
do que reclamar.
A mãe chegou, bem vestida, com óculos escuros grandes demais,
com seus sapatos caros e bolsa importada. Última coleção, uma pequena fortuna.
Agarrou o rosto da filha, dois beijos estalados nas bochechas e um “Minha
querida!”. Seu pai chegou logo depois e deu em Olívia um abraço apertado, de quem
sente saudades, e perguntou como estava sua princesa. Os amigos ricaços
chegaram, todos comeram e conversaram. As mulheres competiam. Bolsas, filhos e
viagens. Os homens falavam sobre negócios e estratégias de mercado, já o pai de
Olívia só comia. Um sentado ao lado do outro, comendo muito e apreciando a
variedade de carnes que chegava à mesa antes que o último pedaço estivesse
terminado. Fim de almoço. O Pai chamou sua princesa em um canto e contou quase
como uma confissão “Não quero ir ver a
casa deles não, hoje tem jogo do Vascão. A gente deixa sua mãe lá e eu te dou
uma carona para casa. Que tal?”. Vinte minutos para achar o tal condomínio de
luxo, explicar à senhora Mãe que ela pegaria uma carona com o Pai para casa,
uma bronca e de volta para o conforto do lar.
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18:21
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domingo, 27 de janeiro de 2013
Parte 2
Olívia
vivia em seu mundo escrito, onde era tudo, era todas. Seus vários cadernos
empilhados na sala de estar contavam histórias de quando foi uma cantora
vivendo no luxo e na riqueza. Tinha tudo que o dinheiro podia comprar mas não
tinha dinheiro, ganhava tudo de seus “admiradores” sedentos por um lugar neste
tão cobiçado círculo dos artista. Alexandra, a artista, morreu afogada em
dívidas e álcool. Já Melinda vivia rodeada de casos sexo-afetivos e amorosos
complicados. Conheceu o homem que acreditou ser o amor que sempre procurou, os
dois com a crença de um amor livre, sem contrato de exclusividade e na verdade
sem cuidado e afeição. Aquele retrato de amor onde ele mesmo não existe, só seu
nome encobrindo individualidade, luxúria e carência. Quando Melinda se nota com
ciúmes some deixando apenas um bilhete sobre a cama, ao lado de seu amante
adormecido:
“ ‘Deixe-me ir, preciso andar. Vou por aí à procurar, rir pra
não chorar. Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar quando me
encontrar.’
Talvez isto demore, talvez não volte.
Com amor, Melinda.”
Olívia também foi Margo. Senhora que perdeu
seu grande amor muito jovem e decidiu viver enclausurada até que sua neta em
uma visita confunde suas pílulas de Ecstasy com os remédios da vó. Margo toma a
droga, achando que eram seus remédios, entra em uma viagem e acaba morrendo em
um surto psicótico. Margo vive em um quarto com ervas daninhas onde o armário
que guardava suas roupas antigas rodopiava e dançava feliz. Quando tentou
seguir o armário saltitante pela janela do apartamento que ficava no sexto
andar, saltitou para debaixo da terra. Ah, Olívia gostava um pouco de
exagerar...
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Unknown
às
04:18
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